domingo, 27 de novembro de 2005

Relação Espírito:Matéria. A Reencarnação II. Boletim GEAE 15, 19/01/1993


Um dos aspectos mais fascinantes da doutrina espírita é o conhecimento do processo da reencarnação que tem produzido efeitos extremamente importantes e benéficos para a humanidade.

A discussão a respeito do processo reencarnatório do homem não surgiu, pela primeira vez, com a codificação espírita feita por Allan Kardec. Muito antes disso, ela já estava incorporada na conduta filosófica e religiosa de muitos povos, especialmente, nos orientais. O que se verifica, são divergências quanto à maneira, a finalidade e as causas do processo. Mas na essência, a reencarnação já constitui uma forma relevante na compreensão do homem rumo ao desconhecido. Mesmo nas religiões tradicionais do mundo ocidental, como no cristianismo, encontraremos informações a esse respeito em vários trechos na Bíblia.

A interpretação de qualquer assunto depende muito do intérprete e do texto como foi escrito no original e, certamente, muita coisa é desviada da compreensão originalmente definida, muitas vezes por ignorância e outras por interesses próprios. Novas interpretações podem gerar novas ramificações religiosas e filosóficas.

O mais absurdo, e abuso contra a própria razão do individuo, é impor uma forma de visão pessoal de vida como sendo a única correta, mostrando um total desrespeito a liberdade de pensamento. Neste caso, por mais difíceis que sejam as informações espíritas, o mérito pessoal de cada um deve ser preservado, pois o espiritismo em sua essência, convida a todos a estudar a vida espiritual constantemente e com isso obter os frutos dos seus próprios esforços e jamais aceitar algo como um ponto final, considerando a dinâmica evolutiva e a liberdade total pela escolha de seu caminho a seguir. Todos evoluem infinitamente, quer seja um indivíduo espírita ou não.

Entre os aspectos comuns na reencarnação entre as várias filosofias e religiões, destacam-se: 1) Admitir a preexistência do Espírito ou Alma ou Eu ou Ego, etc. antes do nascimento. 2) O Espírito existe independentemente da matéria, podendo viver em corpos diferentes e 3) O Espírito continua existindo após a morte e pode retornar em uma nova existência na Terra.

Existem também pontos divergentes entre algumas filosofias e o Espiritismo com relação à reencarnação. Assim por exemplo, pela filosofia denominada Metempsicose, o espírito de um homem poderá reencarnar em um animal em uma nova existência. Já, o espiritismo esclarece que os espíritos estão em evolução constante e a vida animal é um estágio de evolução muito inferior ao humano. Como não há retrocesso na escala evolutiva, os espíritos humanos só reencarnarão em seres humanos que possuem a inteligência diferenciando-os dos animais.

Entretanto, existe também um espírito em cada vida animal, que também está em evolução e que atingirá o estado humano, a “humanização espiritual” No processo reencarnatório muitos aspectos estão envolvidos, desde a conscientização da necessidade da reencarnação, o processo de preparação e adaptação, a união do espírito-matéria, o desencarne e a readaptação do espírito a vida espiritual.

A preparação para a reencarnação é algo muito difícil para o espírito. Da mesma forma que sabemos que iremos desencarnar algum dia, mas não quando, o espírito também sabe que deverá reencarnar e aguarda o momento para tal, tudo conforme o grau de evolução em que se encontra.

Nos mundos inferiores, ele necessita passar por adaptações muito mais difíceis que as verificadas nos mundos mais evoluídos. Desde a união do espírito com a matéria no feto até o desenvolvimento total de seu potencial como ser encarnado, que ocorre na fase adulta, é uma longa fase de adaptação à nova reencarnação. Nos mundos mais avançados o processo é muito menos complexo e mais rápido.

Um dos pontos mais intrigantes do homem é o fato do espírito esquecer as suas atividades vividas em vidas passadas durante o seu processo reencarnatório. Qual seria a finalidade disso? A compreensão disso passa pelo uso da razão com a visão no plano espiritual e a complexidade da vida como um todo.

Há enorme diversidade quanto ao nível de evolução de cada um, tendo em vista as diferenças formas de vida que um espírito possa ter desde a sua criação. Tendo vivido muitas etapas evolutivas anteriormente a esta, obviamente, o espírito passa por situações muito mais difíceis e complexas do que está vivendo agora, já que o planeta Terra é um planeta intermediário na escala evolutiva entre os mundos aptos a reencarnações.

Viver bem, isto é, com saúde, boa posição social, bom relacionamento familiar, pequenos problemas, etc., poderá ser muito agradável. Mas situações extremamente difíceis são enfrentadas aqui e não são fáceis de serem superadas.

O ser humano é dotado de uma sensibilidade muito forte quanto aos seus sentimentos e isso também vai sendo desenvolvido com o avanço de sua evolução. Assim, para um assassino, que se encontra num nível muito baixo de evolução, a morte brutal de uma pessoa pode não significar nada para ele no momento, porém um simples animal ou uma planta mal tratada pode representar um forte sentimento de pesar (agonia), naqueles mais evoluídos. Portanto, uma crise emotiva pode promover depressão profunda com dificuldades tremendas para superá-la e voltar a viver novamente como antes. Como viver então normalmente com fortes crises de vidas passadas?

O processo de preparação para uma nova reencarnação é, dessa forma, primordial, pois a cada reencarnação torna-se uma nova oportunidade para o espírito encontrar o seu verdadeiro caminho rumo à felicidade eterna.

O esquecimento das reencarnações passadas possibilita ao espírito iniciar uma nova caminhada sem as frustrações já ocorridas e que poderiam impedir o seu desenvolvimento normal, pela perturbação de sua consciência. Podemos verificar aqui mesmo o que acontece com uma pessoa que teve um forte trauma mental e que muitas vezes não consegue mais voltar a ter uma vida normal, mesmo após vários tratamentos.

Quando o espírito encontra-se desligado da matéria, vivendo no plano espiritual, ele conserva a sua vida como todo, mantendo consciência da sua trajetória entre as várias reencarnações e passagens no plano espiritual. A tendência será mesmo o esquecimento total das reencarnações conforme avança sua evolução na eternidade. Ao espírito muito evoluído de que servirá a lembrança de um passado tão remoto e muito desagradável?

O esquecimento do passado é algo de supra importância no processo reencarnatório. Mas o espírito reencarnado na Terra esquece todo o seu passado?

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