quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Espiritismo sob Críticas


Desde a sua codificação, o espiritismo vem sendo combatido duramente por aqueles que não lhes interessa o conhecimento real da vida e sim preferem uma forma de viver com a companhia da fé cega. Essas pessoas se incomodam com a crescente adesão à doutrina espírita de indivíduos que procuram um conhecimento maior do que o que eles podem fornecer com suas interpretações de livros sagradas, muitas vezes repletas de vaidades pessoais e dominadas pelo fanatismo. Outros o fazem por simples ignorância, justamente pelo efeito dominador do fanatismo sobre a própria razão.
Não se pode negar o grande efeito benéfico que a religiosidade tem sobre a vida do homem na Terra. Mas, em muitos casos, ela também promoveu e promove enormes prejuízos à evolução natural do homem, causando em muita gente, longo tempo de ajuste espiritual, dificultando avanço mais rápido na escada evolutiva.
O fanatismo leva o indivíduo a permanecer restrito em seu circulo de vida e falta de equilíbrio sem o uso da razão, reduz o seu verdadeiro potencial evolutivo.
Evidentemente, a prática da caridade não expõe esse potencial ao extremo e há evolução acentuada com essa conduta, entretanto, o conhecimento maior da vida, desenvolvido com o uso puro e simples da razão, permite uma forma mais rápida de evoluir, aliando a caridade com a intelectualidade em favor de um bem maior.
Ao verificar o título de um livro: "Forças misteriosas que atuam sobre a mente humana", resolvi folheá-lo e me deparei com uma série de afirmações extremamente absurdas a respeito do espiritismo que merecem ser comentadas, para verificarmos a grande distância que a Terra tem ainda que percorrer para atingir o novo estágio na escala evolutiva. O livro tenta descrever o que é o hipnotismo e espiritismo, dando a impressão de que se trata de um autor experimentado e preparado no assunto, para afinal, derramar críticas à doutrina espírita como objetivo primário do livro.
Vejamos apenas três trechos do livro:
(1)..."As escrituras contém inumeráveis, claras, precisas e absolutas referências à relação dos seres humanos com os espíritos e a condição do homem além da sepultura. Elas declaram, na mais categórica maneira, como já o demonstramos em capítulos anteriores, que a alma não é imortal por natureza, e que o ser humano, desde o momento de sua morte até a sua ressurreição, permanece em estado de completa inatividade e inconsciência, divorciado de tudo o que ocorre na Terra." (Grifos nossos)
A nossa razão não poderá aceitar, pura e simplesmente, a afirmativa de que tudo está claro nas escrituras sagradas. As interpretações e traduções que se fazem são de variadas formas sendo repassadas de geração a geração.
Crer na não imortalidade da alma, na ressurreição, na completa inatividade e inconsciência após a morte, simplesmente por fé cega, é não acreditar na nossa própria existência ou na vida.
As relações entre os seres desencarnados e encarnados na Terra sempre existiram e a ciência espírita, a cada dia, vem aperfeiçoando-as com a finalidade de benefício próprio em favor do bem comum.
(2) "...Allan Kardec, o codificador do espiritismo, declara que "os demônios não são mais do que espíritos, atrasados e imperfeitos, e que fazem o mal em seu estado espiritual, como faziam quando eram homens...; e que os anjos ou espíritos puros não são seres especialmente criados", mas espíritos evoluídos de homens que morreram. Mas Deus revelou de modo especial nas Escrituras que nem os demônios, nem maus espíritos, nem anjos bons são espíritos de homens, mas seres criados por Deus antes da criação do homem, de uma ordem completamente diferente. Anjos são seres espirituais criados por Deus. Não são e nem podem ser espíritos desencarnados, porque a Bíblia fala dos anjos como existindo antes da morte de qualquer ser humano."
As interpretações da Bíblia não são claras, ou melhor, são mais esclarecedoras quanto maior for o nosso grau evolutivo. Quanto mais conseguirmos ampliarmos nosso conhecimento da verdade, mais evidentes vão se tornando as informações, salvo as traduções errôneas que também poderão ser compreendidas no contexto geral.
Realmente fica difícil raciocinarmos em um mundo tão complexo, onde tudo se encontra em harmonia e controle desde o universo à vida, de que haveria seres eternos privilegiados (anjos) e desprivilegiados (demônios) criados por Deus, como dois extremos e os seres humanos como intermediários.
Dessa forma, parece que tudo ocorre como num jogo. Sorte para os anjos e azar para os demônios; e o Homem?
Não existe, necessariamente, uma relação entre os espíritos puros (anjos) e os espíritos encarnados na Terra. Na verdade, todos os espíritos são criados por Deus e seguem trajetória evolutiva infinita rumo à perfeição, passando por sucessivas reencarnações.
A Terra é apenas um estágio, ou um meio onde os espíritos utilizam para as suas evoluções, existindo outros infinitos locais. Assim, os espíritos puros (anjos) podem não ter reencarnados na Terra. Sendo a Terra um planeta intermediário entre os diversos planos evolutivos, eles certamente já existiam antes da criação do homem na Terra.
O grande erro é considerar que o espírito é criado no momento do nascimento do homem na Terra e que ele só se reencarna aqui. Muitos espíritos foram ou são criados e nunca passaram ou passarão pela Terra. Se as reencarnações só ocorressem aqui, a evolução do espírito estaria limitada a presente evolução do planeta, que evidentemente está longe dos planos superiores. Além disso, o planeta não comporta a reencarnação dos inúmeros espíritos existentes.
(3) "...Embora não disponhamos de espaço nesta obra para explicar e provar pela Bíblia o que representa cada um dos três símbolos proféticos, podemos pelos menos saber que o dragão, a "antiga serpente, chamada diabo e Satanás" (Apoc. 12:9), representa aqui o espiritismo em todas as suas manifestações. Em sua visão o profeta deixa entrever o extraordinário crescimento do espiritismo como um sinal da segunda vinda do Cristo. Não raro o espiritismo apresenta a vasta aceitação de sua doutrina por parte do povo como evidência de sua bondade e de sua verdade. Mas Deus declara por intermédio da Bíblia que sua origem é satânica e que o seu propósito é a destruição. A profecia predisse séculos antes que o espiritismo e seus milagres aumentarão em extensão e popularidade, e que esse sistema de erro, juntamente com sua suprema cabeça, continuaria sua guerra contra a verdadeira religião até o retorno de Cristo a Terra. Então, após um período de mil anos, "o diabo que os enganava foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta". Apoc.20:10. Longe de ser uma prova de sua veracidade, o poder e crescente desenvolvimento do espiritismo constitui um cumprimento da profecia e assim uma confirmação de sua origem satânica." (grifos nossos)
Aqui podemos observar aonde o fanatismo religioso é capaz de ir. O autor ao mesmo tempo em que admite o crescimento do espiritismo devido a sua doutrina de amor e caridade, acusa-a de doutrina da destruição. É mesmo capaz de identificar na Bíblia a presença do espiritismo como "religião do mal" em função do orgulho e da inveja de ver o crescimento acentuado de outra filosofia, diferente da sua, capaz de fornecer ao homem as explicações racionais e úteis que não consegue "enxergar" na Bíblia.
Em que se baseiam os opositores do espiritismo para denominá-la de doutrina da destruição? Mostre-nos apenas um ponto de identificação da doutrina espírita como doutrina da destruição?
Manifestações como essas, não deixam e não deixarão o espiritismo de seguir o seu rumo de paz e fraternidade universal. Pelo contrário, só promovem o seu avanço mais acentuado por aqueles que usam a razão e que se fortalecem para o trabalho na seara do bem, pois já estão livres de preconceitos pré-formados e reconhecem facilmente o ridículo das críticas infundadas e ignorantes de seus opositores.
Interessante é observar que o autor confirma o que está ocorrendo em relação ao crescimento da doutrina espírita ao afirmar: “Em sua visão o profeta deixa entrever o extraordinário crescimento do espiritismo como um sinal da segunda vinda do Cristo”. De fato, o espiritismo é o consolador prometido como sinal da própria presença de Cristo.
Ao se caminhar ao lado da ciência;
ao se criar raízes nas camadas de pessoas mais cultas e evoluídas do planeta, assim como consolar os humildes de coração acompanhando lado a lado a nova e real vida evolutiva maior da Terra;
ao se basear nos parâmetros de humildade, liberdade e fraternidade, não querendo impor a ninguém conceitos preconcebidos, mas sim convidando o homem a usar todo o seu potencial da razão no estudo da própria vida;
ao se considerar tudo como fato natural, regido por leis soberanamente perfeitas e harmônicas e as incompreensões como frutos apenas das etapas evolutivas do momento;
ao se utilizar de toda a forma de estudos sobre a vida, teóricos e práticos, mantendo canal aberto de troca de informações entre os planos terrestre e espiritual, o espiritismo está realmente destinado a ser a diretriz futura do homem na Terra como meio para uma vivência mais feliz e nada poderá detê-lo, a não ser a sua própria e natural adaptação que se faz com o avanço da evolução do planeta.
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Referência citada:
CHAIJ, F. Forcas misteriosas que atuam sobre a mente humana. Trad. Carlos A. Trezza, Casa Publicadora Brasileira, 1978.

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